quarta-feira, 6 de julho de 2011

A história das mulheres sob uma nova perspectiva de estudo

                                                                    Débora de Britto  e Graciela C. Tonin
Resumo:

A questão de gênero está cada vez mais em pauta das discussões na sociedade. Para compreender como ocorreu a história das mulheres no Brasil, o museu virtual é uma forma importante nesse processo. Através de uma exposição virtual com objetos que caracterizam a vida e a luta das mulheres das décadas de 30 e 40 é possível estabelecer uma contextualização com a época e os dias atuais. Além disso, o museu virtual é uma forma de proporcionar maior interesse das pessoas na busca de conhecimentos, devido a influência que a internet proporciona na vida das pessoas.

Palavras-chaves: gênero, História das mulheres, museu virtual.


                Em um mundo as tecnologias estão em alta, cada vez mais se busca alternativas pra inovar o campo da educação, novas formas de ensinar inseridas no contexto atual. O museu virtual vem ao encontro disso. É uma forma de proporcionar maior acesso as pessoas através das novas tecnologias. Trabalhar história das mulheres através da exposição de um museu virtual é trabalhar dois temas que estão em voga na sociedade atual, as novas tecnologias, e o papel da mulher na sociedade atual.
      Primeiramente é preciso entender o que é um museu. Um museu é uma forma de preservar, conservar objetos. Não se trata de um lugar onde são depositados objetos velhos, que não tem mais significado. O museu é muito importante, e relata muitas vezes a história de um povo, de uma sociedade.
      Para José Cláudio Alves de Oliveira geralmente quando se pensa em museu se volta para uma estética do velho, de casas que guardam coisas mumificadas, ou de apenas galerias de arte. Mas de um modo contrário, podemos pensar o museu como um ambiente dotado de sistemas autônomos que trabalham transdisciplinarmente. E mais um lugar onde há diversas ciências que desenvolvem trabalhos individuais ou mútuos para um ambiente único que é a instituição.
      Para trabalhar com um museu e poder explorá-lo de forma adequada é preciso levar em conta vários aspectos. Os objetos que são utilizados devem ter um significado, uma história pra contar. É preciso a catalogação dos mesmos, identificando-os. A catalogação é muito importante porque a partir dela cria-se uma temática para se fazer a exposição nos museus. É preciso muita pesquisa e conhecimento para criar uma exposição em um museu. A coleta de dados juntamente com a sociedade é um dos elementos de muita relevância quando se pensa em uma exposição de certa temática em um museu. Faz-se necessário uma contextualização dos objetos, uma comparação entre a realidade e os dados coletados.
     Esses aspectos devem ser levados em conta tanto no que diz respeito a um museu material como um museu virtual. No caso dos museus virtuais essa contextualização deve ser levada mais em conta. Razão disso é que as pessoas apenas visualizam a exposição através de um computador, e essa deve estar bem explicita e contextualizada pra que seja compreendida a exposição e sua temática. O museu virtual pode ser entendido como uma nova forma de levar ate as pessoas conhecimento. Em um mundo onde tudo gira em torno da internet, essa novidade facilita o conhecimento das pessoas.
      Rosali Henriques , mestre em museologia, em um de seus artigos cita: “Na internet é possível abrir mão da exposição tridimensional usada tradicionalmente usada pelos museus como foram de divulgação de seu acervo, criando novas perspectivas de divulgação de seu acervo. Além disso, a internet possibilita visitas virtuais, podendo atrair mais publico a visita real. Ou seja, alem de ser um cartão de visitas do museu, a internet possibilita o acesso a o patrimônio de uma forma mais ampla.”
      Um aspecto importante deve ser levado em conta como já citou Rosali Henriques é que com o acesso na internet, as pessoas desenvolvem maior curiosidade em conhecer o museu real onde podem visualizar os objetos de forma concreta, real.
    Como já foi citado as exposições dos museus não devem ser feitas de forma soltas, sem uma contextualização. Cada exposição deve ter uma temática. Para essa temática exige muita pesquisa, leitura e coleta de dados. Para a exposição da história das mulheres das décadas de 30 e 40, muito estudo deve ser feito. Primeiramente é necessário entender o contexto político, econômico em que as mulheres estavam inseridas na época.
    Em sua obra Mary Del Priore , relata que a história das mulheres não é só delas, é também aquela da família, da criança, do trabalho, da mídia, da literatura. É a história do seu corpo, da sua sexualidade, da violência que sofreram e que praticaram da sua loucura, dos seus amores e dos seus sentimentos. Em sua obra “História das mulheres no Brasil”, a autora relata á vida das mulheres entre os séculos XVI e XVIII, analisando processos de Inquisição, processos-crimes, leis, livros de medicina, crônicas de viagem, atas de batismo e casamento. A historia das mulheres e seu papel na sociedade é entendida desde o período colonial, onde as mulheres indígenas desempenhavam papel importante na sociedade indígena, ate os dias de hoje, onde as mulheres conquistaram um espaço importante na sociedade, não se resumindo em apenas mães de família, mas desenvolvendo atualmente papeis na sociedade que até então somente os homens desempenhavam. Ao analisarmos a historia das mulheres é importante ressaltar que no período colonial muitas vezes as mulheres não podiam desempenhar nem seu papel de mãe. Eram obrigadas a abandonar seus filhos, alem disso recebiam tratamento diferenciado dos homens, como pode se analisar no momento em que a autora cita que o ensino das mulheres era o mínimo, onde não dava-se importância sendo que para os homens os ensino era mais rigoroso. Mas com o passar dos tempos as mulheres organizam-se em sindicatos, lutam e conseguem se inserir na sociedade garantindo seus direitos.
      Em muitos períodos da história as mulheres sofriam com maus tratos, eram colocadas a margem da sociedade. Não tinham direito a nada como votar, trabalhar fora de casa, ter sua voz na família, não tinha liberdade de expressão. O papel das mulheres na sociedade ganha um novo cenário com os acontecimentos na esfera mundial.
     No período da Belle Epoque (1890-1920), com a instauração da ordem burguesa, a modernização e a higienização do país despontaram como lema de grupos ascendentes, que se preocupavam em transformar suas metrópoles com hábitos civilizados, similares ao modelo parisiense. No momento em que o trabalho compulsório passa pra o trabalho livre os hábitos civilizados tem uma maior atenção. A imposição de uma nova ordem tinha o respaldo da ciência. A medicina social assegurava como características femininas, por razões biológicas, a fragilidade, o recato, o predomínio das faculdades afetivas sobre as intelectuais, a subordinação da sexualidade a vocação material. Os homens eram considerados com maior força física, com natureza autoritária, empreendedora. Com isso a mulher era discriminada rejeitada como sexo frágil, incapaz de realizar atividades, a não ser dona de casa, cuidando dos filhos. Além disso, nesse período a violência contra a mulher é muito marcante, tanto física como moral. Em 1960 as mulheres foram consideradas juntamente com os subalternos da sociedade, os escravos, camponeses e pessoas comuns, como objetos e sujeitos da história. Com as mulheres analfabetas e pobres a situação era mais agravante.
      Com o crescente processo de urbanização, surgem bairros, as pessoas saiam do interior pra habitar as cidades. Com isso a um aumento no valor das moradias, sendo que as mesmas tornam-se cada vez menores. Isso dificulta a vida das mulheres e o seu trabalho. Elas passam a trabalhar em casas das famílias mais ricas com desvalorizados trabalhos domésticos. Também trabalham como lavadeiras, engomadeiras, doceiras.
     A restrição a liberdade se estendia também a mais alta sociedade. As mulheres não tinham direito de circular livremente nas ruas. As ruas eram consideradas espaço dos desvios, das tentações, devendo as mães exercerem vigilância as suas filhas.
     Apesar da existência de muitas semelhanças entre as mulheres de classes sociais diferentes, aquelas das camadas populares possuíam características próprias, padrões específicos, ligados as suas condições concretas de existência. Como era grande sua participação no mundo do trabalho, embora mantidas numa posição subalterna, as mulheres populares em grande parte não se adaptavam as características dadas como universais do sexo feminino: submisso, recato, delicadeza, fragilidade. Eram mulheres que trabalhavam e muito, em sua maioria não eram casadas formalmente, pronunciavam palavrões, fugindo em grande escala, aos estereótipos atribuídos ao sexo frágil.
    As atividades das mulheres populares desdobravam-se em sua própria maneira de pensar e agir, contribuindo para que procedessem de forma menos inibida do que a outra classe social. E apesar de todas as precariedades de seu cotidiano, assumiam a responsabilidade integral pelos filhos, pois a maternidade era assunto de mulher.
     Na entrevista com Adélia Tonin (anexo 01) pode-se perceber, que a mesma trabalhava em casa, ao mesmo tempo que trabalhava junto com o marido na lavoura. Ajudando assim com o crescimento e com a economia da família. Mas apesar disso quem exercia o principal papel da família e era visto como o patrono da família era o marido. Era ele quem controlava todas as questões que dissessem respeito ao dinheiro, as economias da casa. Além disso, com o nascimento dos filhos, Adélia ficava em casa cuidando dos mesmos, enquanto o marido trabalhava para o sustento da família. Neste caso Adélia, passou por um processo onde o casamento era realizado formalmente. A mulher devia se casar e constituir junto com o marido uma família. Sexo era restrito antes do casamento.
     Já com as mulheres mais populares do inicio do século XX, a realidade era diferente. A liberdade sexual dessas mulheres parece comprovar a idéia de que o controle intenso da sexualidade feminina estava vinculado ao regime de propriedade privada. A preocupação com o casamento crescia em proporção dos interesses patrimoniais a zelar. No Brasil no século XIX o casamento era boa opção para uma parcela ínfima da população que procurava unir os interesses da elite branca. Ávida familiar destinava-se apenas pra as mulheres das camadas mais elevadas da sociedade, para as quais se destinavam aspirações do casamento e dos filhos, cabendo-lhe desempenhar um papel tradicional e restrito.
   Os homens de classe baixa não conseguiam tomar conta sozinhos de manter a economia da família, cabendo assim para mulher ajudar na economia. Outra forma de perceber o papel da mulher e a sua voz, era no momento em que a mesma reagia contra a violência sofrida dentro e fora de casa. Nesse caso as mulheres populares de classe baixa, enquanto as de classe média e alta nada faziam, sofriam caladas. Foi com essas lutas das mulheres populares que se criam leis em defesa da mulher.
     Para Heleieth Saffiot , a historia das mulheres deve ser entendida a partir do desenvolvimento de movimentos como capitalismo. A autora busca explicar a historia através de fenômenos sociais. Os problemas das mulheres não são diferentes dos problemas sociais de cada época. No Brasil, a história das mulheres é compreendida através do estudo no ângulo educacional e o movimento feminista, que ressalta como as mulheres recebiam a sua formação e como conquistavam seus papéis na sociedade.
   Com o capitalismo surgiram novas formas de trabalhos. Aumentaram o numero de fábricas. Com isso aumentou o campo de trabalho das mulheres. Apesar disso, economistas ingleses e teóricos, acreditavam que o trabalho da mulher fora de casa destruiria a família, tornaria os laços familiares mais frouxos, as crianças cresceriam sem a vigilância as mães. Nesse contexto a crescente incorporação da mulher ao mercado de trabalho e á esfera publica em geral, o trabalho feminino fora do lar, passou a ser amplamente discutido ao lado de temas relacionados a sexualidade, adultério, virgindade e prostituição. O mundo público acabou sendo um espaço ameaçador da moralidade das mulheres.
      Nas fábricas as mulheres sofriam com as más condições, tanto no que diz respeito ao salário como higiene, trabalho forçado e pesado. As mulheres são vitímas de um capitalismo desenfreado. Com as más condições sofridas, os baixos salários, as mulheres organizam-se em sindicatos, reivindicam seus direitos através de manifestações, criam movimentos feministas. Os movimentos feministas se diziam responsáveis pelo futuro das trabalhadoras pobres, mas pouco falavam a respeito do modo de como encaminhar, na prática, essa filantropia. Outro elemento importante dessa época era a dificuldade das mulheres de classe media e alta ingressarem no mundo do trabalho.
   Manifestações foram organizadas pelas mulheres para garantir e lutar pelos seus direitos. Num contexto mundial as mulheres alcançaram muitos de seu direitos em um acontecimento que ficou marcado na vida das mulheres. Mulheres em fábrica de Nova York foram queimadas vivas no dia 08 de 1911. Mas muitos acontecimentos antecediam esse dia. Em 08 de março de 1910, durante a II Conferencia das Mulheres Socialistas na Dinamarca estudou-se uma resolução pra se instituir um dia para ser comemorado o dia internacional da mulher. Com a Primeira Guerra Mundial eclodiram mais movimentos em todo o mundo, mas foi em 08 de março de 1917 que milhares de operárias reivindicaram seus direitos com um protesto conhecido como “Pão e Paz”, que consagrou o dia internacional das mulheres.
     Somente depois de 20 anos do acontecimento em 1945, Organização das Nações Unidas assinou o primeiro acordo oficial que garantia igualdade entre os homens e mulheres. No Brasil esse contexto mundial reflete de uma forma que as mulheres tem seus direitos reservados, passam ater direito ao voto, a ter mais liberdade de expressão, de independência.
      Levando em conta a atualidade, as mulheres passaram por muitos processos para chegar até onde estão. Hoje na sua maioria, trabalham fora de casa, tem sua independência financeira. Muitas leis amparam as mulheres, assegurando-as seus direitos e sua integridade física. Além disso, as mulheres não sofrem mais discriminações no que diz respeito a capacidade de desenvolver trabalhos que os homens desempenham e na sua remuneração.
     Para analisarmos o espaço que a mulher conquistou na sociedade, basta compararmos a entrevista com Maria Inês Priori (anexo 03) com a entrevista de Adélia Tonin (anexo 01). A realidade vivida por Maria Inês trata-se de uma realidade onde a mulher tinha mais espaço na sociedade, já trabalhava fora, apesar de ter que passar por varias situações até chegar a ser independente e conseguir trabalhar fora de casa. Já se analisarmos o contexto em que viveu Maria Bertoncelo (anexo 2), é semelhante o que Adélia viveu uma realidade onde a mulher não tinha voz, trabalhava em casa e precisava ajudar o marido também no sustento da família, sem poder nunca trabalhar fora de casa e ser independente. Exemplificando essa independência faz-se uma análise na entrevista de Daniela Priori (anexo 04) a mesma já conquistou sua independência desde cedo, saiu de casa cedo para estudar. Ela esta inserida em na época atual, onde as mulheres não são mais obrigadas a ficar em casa cuidando da casa e dos filhos, ela tem liberdade de escolhas, pode sair de casa, trabalhar estudar.
        Para recontar um pouco da história das mulheres, das suas lutas, seus direitos conquistados, a exposição no museu virtual aponta uma temática retratando através de objetos de uso feminino, como viviam as mulheres na década de 30 e 40 aproximadamente. Nessa temática e exposição, os objetos caracterizam a época. A máquina de costura revela os costumes de uma época em que toda mulher que casasse, deveria levar uma máquina de costura para poder costurar todas as roupas para a família.
      Com a evolução as maquinas mudaram, as mulheres passaram a trabalhar fora de casa, surgiram as costureiras profissionais.
       O museu virtual relata a história juntamente com a evolução das mulheres e das novas tecnologias. Como foram surgindo novos objetos que facilitaram a vida das mulheres. Relacionando as mulheres com o crescimento da sociedade, da modernização, é importante ressaltar que a modernização trouxe pra as mulheres melhores formas de trabalho, mais facilidade e comodidade. Essa modernização além da comodidade trouxe mais oportunidades para as mulheres, onde as mesmas conquistaram seu espaço, sua liberdade.
       Trabalhando com o museu virtual nas escolas, percebe-se um maior entendimento e interesse dos alunos em busca de conhecimento acerca do tema. Como citado acima a internet é uma importante tecnologia, que utilizada de forma correta traz muitos benefícios, principalmente no campo da educação. Trabalhado em sala de aula o museu virtual, pode ser trabalhado como uma forma de comparação dos tempos antigos com os dias atuais, comparando o que a mulher conquistou, quais foram as mudanças que ocorreram na vida das mulheres.
     Em um contexto onde a realidade gira em torno das novas tecnologias, as pessoas tem mais acesso a novos conhecimentos, o museu virtual trará uma nova forma de estudar diversos temas e de explorar varias áreas. Ao trabalhar a temática história das mulheres pode ser feito uma interdisciplinaridade, relacionando a história com outras disciplinas e com novos temas. Ou seja, o museu virtual é um projeto que vem ao encontro da nova realidade vivida fora e dentro das escolas. É um trabalho que proporciona acesso a toda a comunidade, despertando conhecimentos e curiosidades.

Bibliografia

Livros:
DEL PRIORE, Mary, História das mulheres no Brasil. 5º edição, São Paulo, editora Unesp, 2001.
SAFFIOTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes. 2º edição, Rio de Janeiro, editora Vozes, 1979.

Artigos:

HENRIQUES, Rosali. Museus virtuais e cibermuseus: a internet e os museus.
DE OLIVEIRA, José Cláudio. Do presencial ao virtual: o museu diante da teoria de Niklas Luhmann. O problema da informação.
LIMA, Diana F.C. O que se pode designar como museu virtual segundo os museu




Artigo realizado ao final do projeto de Estágio III Universidade de Passo fundo- UPF. Orientado pela prof.Flávia Caimi.




segunda-feira, 20 de junho de 2011

Mulher... E sua história...

O museu é uma forma de preservar a nossa história através do registro de objetos, documentos e até mesmo de entrevistas orais realizadas com pessoas da comunidade em que se pretende trabalhar determinado tema. Dessa forma ficará um registro para que as futuras gerações possam conhecer a História de sua comunidade, ou seja, a sua própria História.
            Com a realização desse trabalho enfatizamos a História das Mulheres dos municípios no geral, mas focando para os municípios de Ronda Alta e Constantina, através da construção de um museu virtual que não existe fisicamente, o qual se classifica na categoria A: museu virtual original digital, que é o desterritorializado (existirá somente na internet).
As mulheres gradativamente saíram do ‘anonimato’ e passaram a comandar várias esferas da sociedade. Esse fato se deve, também, ao capitalismo, pois com ele a forma de trabalho da mulher na sociedade passou por diversas mudanças. Em épocas passadas a mulher tinha que ser submissa ao homem, dependente dele. A felicidade da mulher dependia do seu casamento.  Ainda que na sociedade pré-capitalista, a mulher apesar de estar submissa ao homem já faz parte do sistema produtivo, mesmo que esse papel ainda seja menos relevante que o homem, ela passa a fazer parte do conjunto das funções econômicas da família.
                         Com a revolução industrial as mulheres começam a trabalhar em fábricas, e com o crescente processo de urbanização surgem bases de artesanato independente e de fabricação doméstica. Apesar disso o salário das mulheres era inferior ao dos homens. O trabalho da mulher passa a ser entendido como uma forma de exploração, pois sendo a mulher um sexo mais frágil e espoliado e ao mesmo tempo mal remunerado.
                        O capitalismo traz oportunidades para as mulheres, ao mesmo tempo em que cria outro problema, a exploração do trabalho e a baixa remuneração. Isso provocou revoltas e insatisfações entre as mulheres o que levou a criação de sindicâncias, organizações lideradas por mulheres, e grandes manifestações, destacando-se a do dia 08 de março de 1857, em Nova York onde mulheres queimam um fábrica têxtil, em protesto pelas más condições de trabalho.
            A seguir trataremos da história das mulheres, buscando contá-la através da apresentação de objetos que foram utilizados por elas há alguns anos atrás, bem como tentamos mostrar a evolução desses objetos no que diz respeito a tecnologia.

As máquinas de costura e a História das mulheres...

          As máquinas de costura possuem uma relação com a história das mulheres muito significativa, pois ela representa parte dessa história. Sabe-se que antigamente a mulher quando se casava, muitas vezes, levava como herança de seus pais uma máquina de costura para que com ela pudesse produzir as roupas, lençóis, toalhas para sua casa. É nessa perspectiva que relacionamos a máquina de costura com a história das mulheres, até porque no principio as mulheres usava a máquina para produzir roupas para família, mas posteriormente com as transformações sociais que foram ocorrendo, as mulheres passavam a utilizar maquinas para ajudar no orçamento familiar.
             Assim a máquina deixa de ser um simples objeto de uso somente para a família, e passa a ser algo de fundamental importância na vida das mulheres. Assim pode-se constatar que não só a história das mulheres ocorreu transformações, mas também objetos utilizados por elas foram sendo transformada tecnologicamente, a máquina de costura que antes era a manivela não utilizava energia, passou por uma evolução tecnológica e hoje temos máquinas grandes que usavam energia elétrica.
       

Ferro de passar...


            O ferro de passar também é importante na construção da história das mulheres, como era ela quem cuidava da casa, era ela quem cuidava das roupas do marido e dos filhos. A princípio o ferro era pesado, a brasa, depois foi feito o ferro elétrico e ainda hoje existem ferros elétricos e a vapor, todas essas evoluções ocorreram para facilitar o trabalho de casa das pessoas, porém agora não somente mais da mulher, pois hoje em alguns casos há uma inversão de papéis, a mulher trabalha fora e o marido cuida da casa, ou ainda os dois trabalham fora e fazem as tarefas domésticas.

Agulhas, bastidores e guardanapo...


          Esses objetos como bastidor e a agulha de bordar, bem como a agulha de fazer crochê, foram muito utilizados pelas mulheres, com eles elas fabricavam objetos de decoração para a casa como guardanapos, capas de almofadas colchas, bordados em toalhas. Hoje em dia existem máquinas fabricadas propriamente para bordar, então essa tradição muitas vezes acaba de perdendo.

           

Conjunto de Xícaras e sua importância para as Mulheres



            O conjunto de chá  representa um  presente recebido pela filha de dona Adélia Tonin, quando a mesma começou a trabalhar fora de casa, isso representa que naquele momento a mulher passa a buscar independência financeira, bem como percebe a necessidade de buscar outras oportunidades de trabalho para ajudar no orçamento da família.
            A primeira  xícara foi um presente de casamento que Catarina Bertoncello(in memorian) recebeu, ela tem um significado especial porquê diziam a “xícara de ouro”, tinha um significado especial pessoal.



Entrevistas...

Entrevista realizada com Adélia Tonin, de 92 anos de idade. Adélia Tonin nasceu em Tapejara no dia 02/12/1918. Em 1939 casou-se com Luiz Tonin e passou residir na Linha São Marcos, interior de Constantina onde mora até hoje. Teve onze filhos, seis homens e cinco mulheres. Sempre morou e trabalhou no meio rural.

1-      Há alguns anos a mulher era vista diferentemente de hoje. Gostaria que a você falasse um pouco sobre qual era o papel da mulher na sociedade de 30/ 40 anos atrás.
Resposta: "A mulher há 40 anos atrás, trabalhava em casa e na roça, antes de ter os filhos. Marido e mulher iam pra roça, na hora de meio-dia chegavam e a mulher fazia almoço. Na maioria das vezes eu fazia o almoço com produtos colhidos no caminho de casa, da volta da roça. Quando nasceram os primeiros filhos eu ficava em casa cuidando da casa e dos filhos. Depois quando as filhas mulheres cresceram eram elas que ficavam com os mais novos e a o restante da família ia pra lavoura."

2-      Em relação a máquina de costura, por exemplo, como era a relação entre ela e mulher há mais ou menos 40 anos atrás?
Resposta: " Quando eu casei ficaram somente meu pai e minha irmã. Minha mãe já tinha falecido. Como meu pai não tinha condições não quis levar a máquina de costura como de costume quando uma moça casava. Nos primeiros anos depois de casada, costurava as roupas nos vizinhos, onde as mulheres tinham máquina. Depois de alguns anos conseguimos comprar uma máquina. Todas as roupas da família eram feitas em casa na máquina de costura. Eram compradas as peças que diziam naquela época que eram pedaços inteiros de tecido. As peças eram cortadas e daí eram feitas as roupas."

3-      Hoje a mulher ganhou espaço na sociedade, como você vê a mulher da atualidade?
Resposta:" Na minha época nenhuma mulher não saía de casa pra trabalhar fora. Mas já na época das minhas filhas, elas já começavam a trabalhar fora, em casa de famílias na cidade. A vida das mulheres mudou muito com o passar dos anos. Na minha época eu dependia tudo do meu marido, se precisasse de dinheiro tinha que perguntar sempre pra ele. Hoje as mulheres trabalham e conseguem se sustentar."

4-      Enfim, como foi a sua trajetória até hoje? Você sempre ajudou nas despesas de casa?
Resposta: " Eu sempre trabalhei com meu marido nos trabalhos da lavoura e da casa. Meu marido morreu no ano de 1956, 17 anos depois de casados. Fiquei com o meu filho mais novo com seis anos. Alguns dos filhos já estavam mais velhos então me ajudaram a criar os mais novos. Os filhos homens trabalhavam na lavoura e as mulheres ficavam em casa. Algumas foram trabalhar em casa de família e uma dava aula em uma pequena escola da comunidade. As condições daquela época eram difíceis. Não tinha água encanada, tinha que ir até a fonte de balde pegar, não tinha energia elétrica. Tudo era mais difícil, as famílias eram grandes. Eu tive 11 filhos, mas todos ajudavam trabalhando para poder viver e pensar no futuro."